“Fui tratado como cachorro”, relata estoquista solto após prisão equivocada

Horas depois de ter saído do presídio na tarde desta quinta-feira, Tiago Marques de Oliveira, de 28 anos, conta que ainda tenta entender por que o policial militar o acusou de ter trocado tiros com os agentes no Morro do Salgueiro, no Rio de Janeiro , no último sábado. A acusação foi feita na delegacia da Tijuca, onde o PM ainda afirmou ter apreendido uma pistola 9mm e munições com ele. Depois de quatro dias, o jovem foi liberado da cadeia após a Justiça conceder alvará de soltura sob a justificativa de que não havia, nos autos, mínimos indícios de que Tiago era traficante.

“Não sei por que o policial fez isso comigo. Ele poderia ter destruído a minha vida. O policial sequer olhou no meu rosto. E só na delegacia, no momento em que fui prestar depoimento sobre o tiroteio, é que eu soube da acusação. Ele fez o relato para a delegada, que aceitou a história dele e me deu voz de prisão”, lembra Tiago, que tem um filho de 4 anos e trabalha como estoquista em uma escola particular da Barra da Tijuca.

Ele conta que era chamado de ‘vagabundo’ pelos agentes na prisão, onde ficou encarcerado em um ‘cubículo’ com outros 16 detentos, um deles com tuberculose, passando frio.

“Eu dormia na ‘pedra’, como eles chamam. A ‘pedra’ é o chão frio. E, a todo momento, ouvia dos agentes: ‘Agacha, vagabundo’, ‘levanta, vagabundo’, ‘coloca a roupa, vagabundo’. Eu não desejo o que eu passei para ninguém. Como todos que estão lá, fui tratado como cachorro, até pior do que isso. Se eu não tivesse tido o apoio da minha família, dos meus amigos, eu teria surtado. É muito difícil manter a cabeça em ordem nessas condições”.

Segundo o depoimento que prestou na delegacia, Tiago relata que estava num bar da família, no Morro do Salgueiro, quando, por volta das 17h do último sábado, ouviu barulho de intensa troca de tiros. As pessoas que estavam no bar tentaram se proteger, mas Tiago e outras duas jovens, menores de idade, ficaram feridos.

Uma delas, de 14 anos, foi baleada na perna esquerda e Tiago envolveu o ferimento com o seu casaco na tentativa de estancar o sangue.

Pouco depois, Tiago relata que foi com a jovem até a viatura policial pedir socorro, informando que a adolescente havia sido baleada e que ele sentia que seu ombro estava queimando – Tiago foi atingido por estilhaços de tiros. Ele, a jovem, já desmaiada, e a mãe dela foram levadas, no banco de trás do carro da PM, para o Hospital do Andaraí.