Luta pela vida: conheça o campo de batalha de quem aguarda vaga nas UTI’s de Manaus

O que até então era considerado, por muitos, como algo inimaginável, tem se tornado cotidiano na vida de milhares de pessoas. A luta incansável pela vida virou rotina de pessoas que, buscam no sistema de saúde, socorro para que a esperança pela vida sobreviva.

A crise na saúde que afetou o Estado do Amazonas em decorrência da pandemia da Covid-19, refletiu, diretamente, em um cenário de calamidade onde falta assistência, oxigênio e vagas nos hospitais.

A incessante busca por um lugar em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), por exemplo, tornou-se corrida contra o tempo para salvar a vida daqueles que foram afetados pelo vírus. Em Manaus, milhares de famílias clamam por socorro e lutam por um espaço em uma unidade de saúde.

“Enquanto houver esperança, vamos lutar”

Seu Clemerson, de 48 anos, faz parte desse grupo que aguarda por um espaço na rede de saúde pública da capital amazonense. Entubado em uma sala improvisada no SPA do Galiléia, na Avenida Samaúma, ele precisa de forma imediata, ser transferido para um leito de UTI por conta de seu estado gravíssimo.

Ele foi intubado no dia 25 de janeiro, com saturação que chegou a ficar em 30. Além disso, o paciente está com problemas na costela por conta da secreção em seu pulmão e complicações no rim.

“Só quero que meu sogro possa conseguir uma UTI, pelo amor de Deus. Eu preciso muito que ele saia vivo daqui. A gente ta cansado de clamar, de pedir, de orar. Estamos a todo momento pedindo para todos os órgãos que possam ajudar a gente. Vemos todos os dias pessoas morrendo na porta desse hospital e eu não quero que aconteça isso com meu sogro. Enquanto houver esperança, vamos lutar para manter ele vivo”, disse Iury Barros, genro do paciente.

Foto: Divulgação / Redes Sociais

“Não tem Vaga”

Aos 63 anos, o 2º Tenente Afonso da Silva também “disputa” por uma vaga em um leito público. Logo após perder seu filho Afonso da Silva Jr para a doença, ele recebeu o diagnóstico positivo para o vírus e passou a integrar um grupo de espera. Sua filha, Monique Ellen, explica que, no desespero em querer salvar a vida seu pai, o levou para um hospital da rede privada, o Santa Júlia, localizado na Avenida Alvaro Maia. Atualmente, ele se encontra em uma sala de observação (sala vermelha) da unidade. Ela explica que está aguardando um leito público pelo sistema municipal SisReg, mas que já foi avisada sobre a grande quantidade de pessoas que estão à sua frente.

“Trouxemos ele pelo desespero, pela situação que ele estava. Nosso medo era de irmos para o hospital público e meu pai não ter os primeiros socorros às pressas, pois ele estava infartando. Fizemos um cadastro para conseguir leito de UTI, mas já falaram que tem umas 800 pessoas na frente dele, então estamos tentando manter ele por aqui”, comentou.

Foto: Divulgação / Redes Sociais

“Um carro em troca de um leito”

No desespero para salvar a vida de dona Marlucia dos Santos Oliveira, de 57 anos, sua família resolveu ofertar um carro como recompensa para que pudessem conseguir o leito de UTI. A paciente deu entrada no SPA da Redenção, localizado na Zona Centro-Oeste de Manaus, mas seu quadro clínico se agravou, tendo como única chance, ser entubada.

Segundo Hemille Oliveira, sobrinha de dona Marlucia, a publicação anunciando a gratificação foi feita nesta quarta-feira (27), por volta de 13h. Horas depois, uma moça que optou por não se identificar, informou que conseguiria a vaga em uma UTI da capital. “Ela disse que nos ajudaria, mas que não queria nada em troca. Disse também que a gente não deveria oferecer os bens porque isso é uma obrigação do Estado”, comentou.

Logo após receber a ligação sendo informada da ajuda, a família de dona Marlucia foi comunicada que a paciente estava sendo transferida para o Hospital Delphina Aziz. “Essa pessoa foi um anjo, ela não pediu nada em troca. Estamos muito gratos à todo mundo que compartilhou. Deus abriu uma luz no nosso caminho”, concluiu.

Foto: Divulgação/Redes Sociais

Colapso

Manaus enfrenta um cenário dramático por consequência da falta de insumos e material nos hospitais públicos da capital. A cidade tomou manchetes internacionais diante da calamidade pública que vivencia.

De acordo com o boletim da Fundação de Vigilância em Saúde do Estado (FVS-AM), foram confirmados 136 óbitos por Covid-19, sendo 79 ocorridos no dia 26/01 e 57 óbitos foram encerrados por critérios clínicos, de imagem, clínico-epidemiológico ou laboratorial, elevando para 7.560 o total de mortes.

Na capital, de acordo com dados da Prefeitura de Manaus, nesta terça-feira (26), foram registrados 86 sepultamentos por Covid-19. O boletim acrescenta ainda que 31.653 pessoas com diagnóstico de Covid-19 estão sendo acompanhadas pelas secretarias municipais de saúde, o que corresponde a 12,29% dos casos confirmados ativos.

Eduarda Prado – Portal Manaus Alerta